Falando em saúde articular e óssea, é muito importante manter um peso adequado (IMC1=
A imagem corporal tem papel fundamental no desenvolvimento e perpetuação de condições clínicas como a obesidade e transtorno alimentares como compulsão alimentar, bulimia e anorexia nervosa.
Paul Schilder, psiquiatra austríaco, conceitua imagem corporal afirmando que "... entende-se por imagem do corpo humano a figuração de nossos corpos formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós" (1994).
Para JK Thompson (1996), o conceito de imagem corporal envolve três componentes: 1) o Perceptivo, que se relaciona com a precisão da percepção da própria aparência física, envolvendo uma estimativa do tamanho corporal e do peso; 2) o Subjetivo, que envolve aspectos como satisfação com a aparência, o nível de preocupação e ansiedade a ela associada; e 3) o Comportamental, que focaliza as situações evitadas pelo indivíduo por experimentar desconforto associado à aparência corporal.
Stice (2002), ao estudar fatores de risco e mantenedores dos transtornos alimentares, mencionou um modelo sócio-cultural associado a estes transtornos de imagem corporal. Neste modelo postula-se que a pressão social para ser magro promove não só a internalização de um ideal de magreza (muitas vezes inatingível), como também a insatisfação corporal, levando a uma avaliação exagerada da importância da aparência física. Além da pressão social, Stice relatou o processo de modelagem, em que o individuo observa comportamentos de outros e os imita. A sociedade pode ser um modelo de preocupações com as medidas corporais, dietas excessivas, comportamentos não-saudáveis de controle de peso e, em última análise, compulsões alimentares.
Não há uma única etiologia para os transtornos alimentares e obesidade. Acredita-se que aspectos genéticos, orgânicos, psicológicos e socioculturais estejam envolvidos. Muitas pesquisas e estudos genéticos com gêmeos indicam maior prevalência de obesidade e transtornos alimentares em algumas famílias, sugerindo um possível fator genético causal. Alterações de neurotransmissores moduladores da fome e saciedade como dopamina, serotonina, ghrelina, noradrenalina, NPY e outros tem sido descritas como predisponentes para os transtornos alimentares e obesidade. Aspectos psicológicos como dificuldade de comunicação ou relações conflitantes entre familiares, baixa auto-estima, rigidez no comportamento, são considerados predisponentes ou mantenedores do quadro de ganho ou perda ponderal que ocorrem na obesidade e transtornos alimentares. Por fim os aspectos socioculturais já descritos por Stice, Thompson e tantos outros, em que a obsessão em ter um corpo magro e perfeito é reforçada no cotidiano das sociedades em todo o mundo.
Tanto a obesidade como os transtornos alimentares acarretam inúmeras alterações no sistema cardiovascular, no metabolismo glicêmico, lipídico, na regulação da calcemia, dos íons, dos hormônios tireoidianos, adrenais e gonadais. No que diz respeito ao osso e articulações, a obesidade, ao mesmo tempo que está relacionada a aumento da massa óssea, também está envolvida na patogênese, nas manifestações clínicas e na evolução das doenças musculoesqueléticas. O estudo realizado por Radominski (1998) demonstrou a associação da obesidade com dor lombar e, principalmente, com hérnia discal, e foi relatado que a dor articular é um sintoma muito freqüente e agravante em indivíduos com excesso de peso, por acarretar sobrecarga mecânica aos ossos e às articulações. Também já foi descrita a produção de fatores inflamatórios e fatores de necrose tumoral pelos adipócitos. Sendo assim em casos de obesidade (IMC>30) podem ocorrer dores articulares mesmo nas articulações não relacionadas à sustentação do corpo. Além disso, a incapacidade advinda dessa co-morbidade é fator determinante na redução de qualidade de vida dos pacientes.
Em relação aos transtornos alimentares, em especial a anorexia nervosa, o medo de engordar é tanto que as pacientes portadoras (maioria mulheres) passam a ter comportamentos restritivos (não comer) e/ou purgativos (provocar vômitos e diarréia) como na bulimia, perdem muito peso e muitas vezes este baixo peso (IMC <18)>ingestão deficiente de cálcio, e hipercortisolismo presente em muitos caos. Existem relatos de pacientes com anorexia nervosa e fraturas de ossos longos, vértebras, arcos costais.
O tratamento destes transtornos deve ser multiprofissional, com envolvimento do médico, da nutrição, da psicologia e também dos familiares. Como os resultados dos tratamentos ainda são insatisfatórios em um grande número de casos e com o crescimento dos casos de obesidade e compulsão alimentar e também da anorexia e bulimia, considera-se de grande importância as medidas profiláticas como difundir nas escolas os benefícios da atividade física para a manutenção de um peso saudável, a importância de uma dieta equilibrada, e a detecção precoce pelo Pediatra ou Hebiatra, de aspectos familiares ou comportamentais predisponentes.
Referências:
Bandeira, Francisco. A obesidade realmente fortalece os ossos?. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2007, v. 51, n. 6, pp. 895-897
Saikali, Carolina Jabur; soubhia, Camila Saliba; scalfaro, Bianca Messina and Cordas, Táki Athanássios. Imagem corporal nos transtornos alimentares. Rev. psiquiatr. clín. [online]. 2004, vol.31, n.4, pp. 164-166.
Leal, Gláucia. Você tem fome de que? Mente e cérebro. Ed. Especial no. 18
Wajchenberg, Bernardo Léo. Tecido adiposo como glândula endócrina. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2000, vol.44, n.1, pp. 13-20